
Quando eu tinha uns doze anos, eu meio que conheci um cara.
Meio porque não conheci de verdade mesmo. Meio porque só conversei com ele uma vez e nunca mais o vi na vida.
Mas aquela conversa de algumas horas rendeu muito aprendizado.
Ele estava só. E tinha a cara tristonha. E eu sempre fui dessas que odeia ver pessoas tristes. Eu achei que — mesmo ele sendo um completo desconhecido — eu poderia ajudá-lo de alguma forma. Foi uma atitude perigosa, já que eu não o conhecia; e, eu era nova e ele era homem, bem mais velho.
Eu estava com uma amiga minha e começamos a puxar assunto com ele. Perguntei se ele estava bem. E, ele estava com um problema que acho que todo ser humano já passou, pelo menos, uma vez na vida: um coração partido.
Mas não esse não é mais um texto sobre amor e corações partidos, caro leitor.
É um texto sobre como uma menina de doze anos aprendeu com um desconhecido uma coisa que levaria para o resto de sua vida.
Conforme fomos conversando e ele contando sobre ele e sobre sua decepção amorosa, acabamos entrando em outros assuntos.
E eu brincando, comecei a falar sobre os meus defeitos.
Ele me disse que falar mal de si próprio era uma coisa errada.
Errada porque, segundo ele, quando falamos mal de nós mesmos damos força para que os outros falem mal de nós.
E depois reclamamos que os outros falam da gente. Mas quem expôs esse “defeito”, essa insegurança, fomos nós.
Eu fiquei dias pensando sobre isso e percebi que era verdade.
E, isso me remeteu à duas coisas:
1º A Clarice Lispector;
2º O filme Deixe-me entrar.
A Clarice, por causa daquela frase que diz :
“Até cortar os próprios defeitos pode ser perigoso – nunca se sabe qual o defeito que sustenta o nosso edifício inteiro.”
E o filme, Deixe-me entrar, porque na história a personagem …. diz que só pode entrar na casa do menino se ele lhe der permissão. Por isso, ela pergunta para ele: — Deixe-me entrar?
Ou seja, você já parou para pensar que, muitas vezes, nós permitimos que as pessoas falem sobre nós?
Que ao expor nossas fragilidades podemos dar permissão aos outros que cutuquem ainda mais essa ferida que está aberta?
Não que devemos nos achar superiores aos outros e ignorar os nossos defeitos. Não é isso. É ter consciência de que somos imperfeitos sem precisar o tempo todo falar isso para as pessoas.
Falar mal de si vira assunto. É como falar do tempo e até mesmo falar de outras pessoas.
Tem gente que reclama muito dela mesma, se cobra demais. E, às vezes, espera que o outro o ajude a mudar aquele defeito. Mas essa mudança depende de nós e, apesar do conselho da outra pessoa poder ajudar quem deverá ter uma atitude para mudar somos nós mesmos.
Mas temos que ter duas atitudes diante os problemas: a primeira é tentar acabar com esse defeito e o segundo é aprender a conviver com ele.
Não que a gente tenha que ser super fechado e não se abrir com as outras pessoas. Podemos sim. Mas temos que tomar cuidado com as pessoas para quem contamos nossos defeitos, nossas fraquezas, nossos pontos fracos. Porque a pessoa pode se aproveitar para usar essa informação sobre nós um dia.
Então o conselho que fica é : cuidado ao exaltar seus defeitos para os outros. Lembre-se daquilo que os guardas falam nos filmes quando irão prender alguém: — Você tem o direito de permanecer calado, tudo o que disser pode ser usado contra você.
vou levar pra vida “quando falamos mal de nós mesmos damos força para que os outros falem mal de nós.” , gostei muito de seu post.
Obrigada, Katyllen ♥
Além de dar margem para que os outros falem de nós, pensar mal de nós mesmos é um ataque grotesco contra nossa autoestima, que nos dias de hoje já sofre oscilações constantes por conta desses padrões sociais espalhados por aí. Esse é um ensinamento que tenho tentado trazer para mim, e o seu texto serviu para fortificar isso 😀
Gostei muito! Beijos ❤
Obrigada, pelo comentário Rafaela. Fico contente por saber que meu texto lhe ajudou de alguma forma. Beijos ❤