A linda convidada parte I

A festa

Em um subúrbio de uma grande cidade vive Loren, uma mulher madura, digamos assim, os números de vida chegam próximos do 50, mas ela não conta a idade oficial para ninguém.

Loren mora sozinha, mas não vive desacompanhada. A vantagem de morar sozinha é que pode fazer festas quando quiser, a desvantagem é que todos têm de ir embora em algum momento.

No último sábado, a solidão cresceu dentro da velha casa de madeira. E ficou tão grande que parecia não sobrar espaço para a própria Loren, que começou a sentir o coração palpitar, as mãos suarem, uma dor no peito… Doutor Monteiro receitara ansiolíticos, mas ela tinha um remédio melhor. Como acabar com a solidão? Enchendo a casa de gente.

Decidiu fazer uma festa. Chamou alguns homens jovens e bonitos da vizinhança. Mas as coisas saíram do controle, cada convidado levou ao menos mais um convidado e logo a casa encheu-se de pessoas desconhecidas.

Dentre vários rostos estranhos, um se destacava: o de uma moça linda, de feições delicadas, olhos grandes, a boca parecia um coração. Ela olhava para todos os lados, passa por Loren e, pergunta:

— Oi, me disseram que o Tadeu estaria aqui. Você sabe onde ele está?

— Vi ele indo ao banheiro, não faz muito tempo.

— Obrigada. Você pode me dizer onde é o banheiro?

— Claro. Desça as escadas e vire à esquerda, você vai ver uma porta azul. Lá é o banheiro.

— Muito obrigada. — Diz a moça enquanto passa algumas mexas do cabelo atrás do cabelo.

Ela parecia preocupada, mas Loren ignorou-a.

Passaram alguns minutos e a moça sai da casa, sem o Tadeu. Ela passa constrangida no meio daquela multidão de gente esquisita.

Loren acompanha cada passo daquela moça até ela chegar ao portão da casa. Repentinamente a bela desconhecida olha para trás e seus olhos se cruzam com o de Loren. Aqueles olhos castanhos escuros e marejados seria uma visão da qual Loren jamais esqueceria.

Tadeu vem logo em seguida, com os cabelos pretos caindo sobre os olhos enraivecidos, um cigarro recém aceso e a face enrubescida. Ele passa empurrando as pessoas com seu corpo forte. Ele se vira e olha para Loren mas sem prestar muita atenção em quem estava ao redor.

Tadeu sai e bate o portão com força.

Todos estão alheios ao que está acontecendo e Loren decide se juntar a eles não dando importância as cenas que havia presenciado.

Nem ela, nem qualquer outro convidado daquela festa, imaginava o que estava aconteceria nos próximos dias.

Solidão

Sasha Freemind, via: Unsplash

Uma vez eu me perguntei porque eu era tão sozinha.

Mas o que eu sentia não era a falta de ter pessoas ao meu redor, mas sim de me sentir sozinha nas multidões. Não sentir que eu me pertencia aquele grupo de pessoas.

E como eu queria isso!

Como eu queria pertencer há alguma coisa.

Foi por me sentir sozinha demais e, por sentir que ninguém queria me ouvir que eu comecei a escrever.

As palavras me deram voz, mas elas não saiam da minha boca e sim foram transcritas viraram grafite e tinta de caneta.

Foram as palavras que me deram o que eu mais queria: amigos. Os meus amigos imaginários eram os meus personagens.

Apesar de eu me sentir sozinha eu nunca estive. Eu tinha alguém por mim. Alguém que me dava força, que se preocupava comigo e que me enxergava quando para todo o resto eu era invisível.

Essa pessoa abriu a janela e me fez sair quando eu queria virar um móvel da sala.

Essa pessoa fez isso por mim várias vezes.

Mas agora eu sinto ela cada vez mais longe e mais frágil.

E agora eu me sinto cada vez menor e menor, e menor, sinto que um dia desses eu vou descer pelo ralo.

E quem vai me enxergar? Quem vai me resgatar?

Agora eu realmente estou sozinha. Um pontinho de solitário escondido em uma multidão egocêntrica.