Desde que eu aprendi a escrever passei a rabiscar as últimas folhas do caderno para escrever sobre as coisas que eu observava no meu dia a dia. Em casa, sempre fui uma criança comunicativa, mas quando eu estava fora do meu porto seguro era extremamente quieta. Minha mãe dizia que eu quietava para poder observar tudo que estava em volta de mim, eu não deixava escapar nenhum detalhe: o olhar das pessoas, a forma como elas mexiam as sobrancelhas, como gesticulavam ao falar… Sem contar, é claro, no meu contato com a natureza. Eu era daquelas criancinhas doidinhas que conversava com as árvores (ótimas confidentes, por sinal). Então tudo que estava a minha volta era observado atentamente por mim.
Eu ainda não sabia, mas de certa forma ser observadora era o meu “laboratório”, era ali que eu encontrava subsídios para escrever os detalhes que meus textos exigiam.
No começo, eu escrevia para desabafar. Para falar dos meus sonhos e para me esconder de um mundo ruim que eu observava.
Eu escrevia sempre. Mas quando eu estava triste a inspiração parecia fluir.
Por muito tempo, pensei que a única forma de escrever bem era ficando triste. Com o tempo descobri que da mesma forma que não dá para ficar feliz por muito tempo não dá para ser triste o tempo todo (ainda bem).
E, foi preciso um esgotamento emocional para eu me descobrir outra pessoa. E essa nova pessoa descobriu que a tristeza era um mero detalhe, que a inspiração vinha de muitas outras coisas.
Vinha de uma música legal que eu ouvi na rua, de um livro que eu li ou de um filme bacana que eu assisti, de uma conversa com desconhecidos…
E, a partir daí, a felicidade passou a fazer parte do meu processo de inspiração.
Se antes eu só escrevia para desabafar hoje escrevo para compartilhar a minha alegria.
A inspiração está em todos os dias em todos os lugares. Mas tem dia que estamos mais propensos para percebê-las. E, cada dia o cotidiano pode nos tocar de uma forma diferente e inspiradora.